Era uma vez um pé
de manga chamado Mangote que vivia infeliz junto com outros pés de manga, porém
felizes, no quintal de uma linda fazenda. Aparentemente, parecia não existir
nenhuma diferença entre os pés de manga que ali viviam, no entanto, havia uma
diferença que era sentida profundamente por aquela árvore tristonha. Ela
era frondosa como todos as outras, suas folhas bem verdinhas, dava uma sombra
magnífica, mas os seus frutos não eram saborosos. Isso deixava Mangote
muito triste. O maior desejo dele era descobrir a receita que pudesse deixar os
seus frutos tão saborosos quanto os frutos das outras mangueiras.
Certo dia, absorto
em sua melancolia, foi despertado por um João de Barro que construíra sua casa
em seus galhos.
- O que aconteceu contigo, Mangote?
De uns anos pra cá, você anda tão triste...
-Acho que não sirvo para nada
mesmo... Lamentou Mangote.
- Como pode dizer isto! Você é minha
morada. De tão lindo e aconchegante, escolhi você como minha morada. Vivo muito
feliz com toda minha família graças à sua maravilhosa hospedagem. Que motivos
pode ter para reclamar da vida?
- Voce mora em mim, mas não saboreia
os frutos que eu produzo todos os anos. Prefere as mangas das árvores vizinhas
às minhas . Voce acha que eu nunca reparei nisto? Argumentou Mangote censurando
João de Barro.
- Infelizmente, tenho que admitir que
suas mangas não são tão saborosas como as outras. No entanto, acho que de nada
adianta ficarmos aqui fixados em comparações. Isso só faria você se sentir cada
vez pior. Admitiu, pesarosamente, o amigo João de Barro.
- E, o que podemos fazer para mudar
esta situação que me aborrece tanto? Perguntou Mangote fazendo um beicinho como
se fosse uma árvore bebê.
- Eu não posso fazer nada, mas você,
com certeza tem muito que fazer. Respondeu João de Barro.
- Como assim? Eu já não faço o suficiente?
Sou o pé de Manga mais eficaz e rápido deste quintal. Se você observar bem,
antes mesmo das outras mangueiras florirem, eu já estou oferecendo fartamente
meus frutos.
- Pois, é justamente aí que você
precisa mudar. Querendo estar à frente de tudo, querendo andar mais rápido que
o próprio tempo, você se prejudica e não percebe. Alertou o pássaro.
- Ei! Onde é que você está querendo
chegar? Perguntou, confuso, Mangote.
-Estou querendo chegar no aqui e no
agora. Respondeu com um ar de sabedoria o pássaro inquilino.
- Não estou entendo nada. Aqui...
Agora... Que papo é este? Você está ficando maluco?
-Quem está maluco já a um bom tempo é
você, embora não tenha percebido. Quer ser mais rápido que o tempo, ou seja,
que o ciclo natural da vida e acha isto normal. Como pode gerar mangas normais
agindo de forma antinatural? Censurou com delicadeza o amigo João de Barro.
- Que papo furado é este, Joãozinho!
Retrucou Mangote, mas de forma serena e amiga.
- Furada é a situação que voce cai
nela todo ano por conta desta pressa que não te leva a lugar nenhum. Pior!.. Te
leva a um lugar que voce não quer estar.
- E, onde eu não quero estar?
Perguntou Mangote ironicamente.
- Absorto nesta tristeza que só
aumenta ano após ano. Respondeu com firmeza João de Barro.
- Voce é muito bom pra criticar. Fala
o que eu faço de errado, mas não fala o que é certo fazer. Por acaso tem alguma
receita especial para mim? Sabe adoçar as minhas mangas? Rebateu criticamente a
Mangueira com uma aparente dose de irritação.
- Sei adoçar as suas mangas sim.
Desafiou João de barro.
- Ah! Só me faltava esta! Se eu que
sou uma mangueira não sei como fazer isto; voce como pássaro é que vai saber?
Então, me diga: Qual a receita de mangas docinhas?
- A receita é uma só. Vale não só
para adoçar suas mangas, mas para adoçar a vida de qualquer ser. Anote aí.
Ingrediente – Paciência. Modo de fazer – Viver o presente.
- O que você está querendo dizer com
isto? Perguntou Mangote após o amigo despertar sua curiosidade sobre um assunto
que parecera ter esquecido.
- Você se esquece que uma obra de
arte não é feita às pressas. Veja a minha casa, demorei um bom tempo para
construí-la. Tudo é arte nesta vida, inclusive seus frutos. Quantas vezes você
chegou a perder suas flores e, consequentemente, seus frutos por conta desta
postura ansiosa. Faça o que tem de melhor no momento, mas não deixe que a
ilusão de um futuro próspero roube de você o que você tem de melhor hoje; ou
que a desilusão pela crença de um futuro desastroso possa roubar o que tem de
bom aqui e agora. Viva cada estação no seu tempo; mais do que sito, sinta as
peculiaridades de cada estação do ano e da vida.
- Pode ser que tenha razão... –
admitiu Mangote exalando constrangimento. Embora fosse ansioso, tinha uma
qualidade essencial. Não era uma árvore rígida. Era flexível e humilde.
Balançando seus galhos e fazendo suas folhas verdes trepidarem, continuou: –
Vou tentar mudar, embora eu não saiba bem por onde começar.
- Comece freando esta pressa que só o
afasta de si mesmo e de toda beleza que há em ti. Diminua esta velocidade que
lhe impede enxergar, sinta mais o sabor da vida e suas mangas terão, com
certeza, outro sabor. Nesta correria toda, você atropelou o melhor que existia
dentro e fora de ti. Alertou João de Barro.
-Vou tentar, embora eu não saiba
ficar de braços cruzados esperando o tempo passar. Ponderou a mangueira.
- Deixar a ansiedade de lado não
pressupõe cruzar os braços. Pelo contrário, pressupõe fazer o que deve ser
feito. A dose certa de ansiedade nos impulsiona agir e a esperar quando o
momento exigir. Voce, no entanto, fazia o que não deveria ser feito, pelo
menos em determinados momentos. Afastar a má ansiedade e cultivar a boa,
pressupõe também transformar o que deve e pode ser transformado e aceitar o que
não deve e não pode ser.
- Aceitação... Oh palavrinha danada
de ser vivida! Pensou alto a mangueira que já denotava mais satisfação.
- Aceite a ação certa que esta
palavrinha se transformará numa benção. Aconselhou o amigo.
Depois deste dia,
muita coisa mudou. Mangote não mudou nada em si mesmo, apenas, sua postura.
Aprendeu a viver o aqui e o agora. Aprendeu a planejar o futuro, jamais,
antecipa-lo e a respeitar as estações. Com esta simples mudança, sua copa
ficava, a cada ano, mais florida e seus frutos cada vez mais docinhos e
saudáveis. Hoje, João de Barro e sua família nem precisam mais das mangas das
árvores vizinhas. Dona Joana de Barro adora fazer com as fartas e deliciosas
mangas de Mangote saborosas mangadas para a passarada. A mangueira infeliz se
transformou, transformando também a sua história que de triste não tem mais
nada.
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