Era uma vez um
desejo que desejava não desejar. Saiu pelo mundo pregando a importância de
matar ele mesmo e os perigos de ser o que ele era - desejo. E cada vez
que ele negava si mesmo, mais ele se afirmava como tal. E, à medida que ele se
afirmava através de sua negação, mais ele crescia e mais forte ficava. E assim,
ele foi crescendo e se fortalecendo quando o que ele mais desejava era
sumir e se enfraquecer. Foi ficando tão grande que passou ocupar espaços que
não desejava ocupar, pois a gente se ocupa mais daquilo que a gente se obriga
desocupar, do que daquilo que a gente nunca pensou a respeito. Virou um
gigante! De tão grande, já não cabia mais em qualquer lugar, fazendo com que
lugares cada vez maiores precisassem ser conquistados para cabe-lo e serem,
consequentemente, ocupados por ele. E, por mais que ele pensasse: “Não
preciso deste lugar” - mais dependente dele ele ficava, pois tudo aquilo que a
gente mais tenta se convencer não precisar, mais dependente a gente fica desta
coisa. A verdade é que a gente só não precisa daquilo que a gente nunca pensa a
respeito. Com tanto pensamento desejoso, o mundo foi ficando cada vez mais
complicado e estratégias para conter a si mesmo, cada vez mais necessárias.
Mas, o necessário é o remédio que aumenta o apetite do desejo. Assim, diante da
necessidade ele foi ficando cada vez mais voraz. Nesta voracidade, foi
devorando muita coisa e se tornou obeso, pesado demais. Ficou tão pesado que
ficava difícil carregar a si próprio. E o peso foi deixando o desejo cansado.
Cansado, ele foi ficando sem disposição. Sem disposição ele foi ficando sem
vontade. E sem vontade ele foi ficando... Foi ficando, simplesmente. E, neste
estado de não ter que ser e não ter que ir para lugar algum... Era uma vez um desejo.
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