CARA DE CEGONHA
Sabrina, uma menina de 5 anos
perguntou a mãe:
—Mamãe, como é que você ficou me
esperando?
—A cegonha lhe trouxe, querida.
—E esta barriga tão grande que está
na foto, mamãe?
—A cegonha pôs você dentro da barriga
da mamãe.
—Como é que a Cegonha me enfiou ai?
—Ela abriu minha barriga.
—Com que?
—Com um bisturi.
—O que é bisturi, mamãe?
—É tipo uma faquinha.
—A Cegonha te esfaqueou? Perguntou,
Sabrina, assustada e com os olhos arregalados.
—Não, ela só abriu a minha barriga.
Ela sabe fazer isto sem dor.
Um mês depois a mãe é surpreendida e
grita apavorada:
—Sabrina! O que você
está fazendo com esta faca na mão?
—É para abrir minha barriga, mamãe.
—Pra que, minha filha?
—Para colocar a Paty lá dentro.
Respondeu Sabrina apontando para a boneca ao lado.
—De onde você tirou esta ideia?
—Da Cegonha.
—Que Cegonha? Perguntou a mãe confusa
como se nunca tivesse ouvido falar em Cegonha.
—Da Cegonha que me colocou na sua
barriga. Respondeu, prontamente, a filha.
—Nenhuma cegonha te colocou na minha barriga,
sua maluca! Repreendeu a mãe, de forma áspera, a inocência da
menina.
—Mas, foi você quem me disse isto.
Justificou a filha.
—Nem tudo que a mamãe diz é verdade.
—Como assim, mamãe. Não é você que
vive me dizendo para falar só a verdade?
—É, mas...Titubeou a mãe
sem saber o que dizer.
—Já entendi. Não é para falar mais a
verdade.
—Não! Absolutamente! É para falar a
verdade sim. Ordenou a mãe, arrependida com a confusão que gerou na
cabeça da filha.
—Não estou entendendo mais nada... Se for para falar a verdade, como é
que você me falou uma mentira
—Foi por que... Por...
—Por que, mamãe? Completou Sabrina.
—Por que eu estava com vergonha.
—Já entendi tudo!
—Entendeu o que, menina! Vê se você tem idade para entender alguma
coisa? Subestimou a mãe a sabedoria da filha.
—Eu entendi que você pôs cara de cegonha numa atitude sem vergonha.
A mãe quase caiu para trás. Meio sem fôlego, perguntou:
—De onde você tirou isto, menina!
—Meu coleguinha falou que a irmã dele está esperando neném...
—E o que isto tem haver com a nossa história?
—Ele falou que aconteceu isto porque ela é sem vergonha.
A mãe cada vez mais desesperada, sem saber como arrumar a bagunça que
criou na cabeça da filha, lamentou exasperada:
—Que confusão eu criei na sua cabecinha. Desculpe-me, filhinha! Mamãe
errou, mas promete que não fará mais isto. Eu vou lhe explicar melhor toda esta
história.
A filha percebendo o desespero da mãe tentou confortá-la utilizando todo
seu conhecimento infantil em processo de alfabetização:
—Preocupa não, mamãe. Você errou só por uma silaba. Trocou o Ver pelo
CE. E, se a gente misturar estas letrinhas... Cer-ve – silabou a menina
– “Cerve” o que você me contou - continuou.
—Serve não, filhinha. Serve escreve com S e não com C.
—Mas, se Vergonha virou Cegonha... O S pode virar C.
—Acho melhor o S continuar sendo S e o C continuar sendo C.
—Por que mamãe?
—Porque senão um dia, a Sabrina linda que eu estou vendo aqui, pode
resolver deixar de ser Sabrina para ser outra coisa que a mamãe não vai gostar
de ver. Você merece ser Sabrina sempre. Para isto, eu tenho que fazer a minha
parte.
—Que parte, mamãe?
—Eu tenho que te contar sempre a história verdadeira.
A mãe colocou a filha no colo e fitando-a nos olhos contou a história
que toda criança anseia um dia saber. Na linguagem da filha, usando os recursos
que uma criança de cinco anos é capaz de entender, ofertou à mesma, uma verdade
que lhe pertencia e que jamais poderia lhe ser negada ou escondida. No final da
historia, recebeu como retorno, um sorriso radiante da filha e uma opinião
envolta pela simplicidade que falta a todos os adultos:
—Mamãe, esta historia é muito mais interessante! Prefiro muito mais a
participação do papai do que de uma Cegonha. Esse bicho, eu não conheço e nunca
vi. O papai, eu amo e vejo todo dia.
A mãe não titubeou em dar à filha um abraço bem verdadeiro, daqueles que
só quem ama muito sabe dar.
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