Dedico esta história a todas as crianças que temem a noite
O Encontro do dia e da noite
O
dia e a noite gostam sempre de se encontrar para uma conversa agradável antes
de um deles ir para a cama dormir. Ao entardecer, o dia já cansado, repousa no colo da noite e ela conta inúmeras
histórias para o dia dormir e descansar. Da mesma forma, ao alvorecer, a noite
já cansada de tantas aventuras, repousa no colo do dia e este lhe contas as
mais interessantes histórias para que a noite durma e descanse feliz. Sempre
foi assim que as coisas aconteceram, até que, certa vez, o dia começou a
perceber uma grande tristeza na noite. Ela não queria mais contar histórias e
com uma expressão muito desanimada e triste acabava deixando o dia triste
também, pois a noite e o dia se amam tanto que quando um fica triste o outro
acaba ficando triste também.
O
dia perguntava o que estava acontecendo, mas a noite se calou, não queria
falar no assunto. Respeitando o silencio
da noite, mas querendo ajuda-la de todas as formas possíveis, o dia aproveitou
uma daquelas situações em que a lua se esquece de dormir e fica acordada também
durante o dia para tecer com ela uma boa conversa. A Lua sempre foi uma grande
companheira da noite e, com certeza, saberia lhe dizer o que estava acontecendo
com a amiga, de onde vinha aquela tristeza tão grande. Aproveitando a presença
da lua ali bem pertinho de si, perguntou curiosa:
- Amiga Lua, o que está acontecendo com a noite? Ela anda tão
triste!!!
- Triste é pouco, acho
que ela já está doente de tristeza, perto de viver uma grande depressão.
Remendou a lua.
- Depressão! Mas isto
é muito sério! Exclamou o dia ainda mais assustado.
- Você é quem dorme e
não vê! Mas, a tristeza da noite já conseguiu apagar a alegria de milhares de
estrelas. O céu está cada vez mais escuro, pois as estrelas estão perdendo a
luz contaminadas com sua tristeza.
- Mas, nossa amiga
noite é tão linda, agradável e amada. Sempre foi tão feliz... Ela perdeu alguma
coisa? O que falta para ela se sentir feliz agora? Perguntou o dia confuso, sem
conseguir entender os motivos da noite para tanta tristeza.
-Infelizmente, a noite
fez uma descoberta muito desagradável. Comentou a lua.
- Que descoberta? Me
conte, estou curioso. Perguntou o dia.
-Você bem sabe que a
noite é muito amada por quase todos.
-Quase todos? Como
assim? Acho a noite amada por todos. Os artistas só conseguem fazer arte,
músicas, poesias e estórias no silêncio e na tranquilidade que ela proporciona.
Os adultos só conseguem dormir profundamente no colo da noite para acordarem
cheio de energia, prontos para o trabalho e para as mais interessantes
aventuras no tempo que proporciono a eles. Se não fosse a noite, eles não
teriam energia suficiente para me viver. Até o sol que vive comigo, passa
grande parte do meu tempo elogiando a noite. Diz que se não fosse ela, ele
estaria muito cansado e sem energia para aquecer a terra. Os namorados adoram a
noite, principalmente nos dias em que você está bem cheia. Dizem que noite de
lua cheia é romântica e transborda amor. Enfim, tenho uma lista gigantesca de
seres que amam a noite. Não consigo pensar em ninguém que possa não gostar
dela. Se não fosse ela, se não fosse o descanso que ela proporciona, ninguém teria energia suficiente para me viver.
Eu seria um dia solitário e triste. Por isso, a amo muito também. Devo a minha
felicidade a ela.
-É verdade! Comigo
acontece o mesmo. As pessoas só conseguem ver a minha beleza na noite. Por mais
que eu goste de você, amigo dia, durante a sua jornada eu fico praticamente invisível
para as pessoas. Devo a minha beleza à noite, por isso a amo tanto! Exclamou a
lua tocando a lebre tatuada bem em cima do seu coração.
- Então, me fale o que
falta a ela. Não consegui entender nada ainda!
-Falta ela ser amada
pelos seres que ela mais ama. A noite descobriu que muitas crianças, ao invés
de ama-la, morrem de medo dela. O medo das crianças acabou com a alegria da
noite. Explicou a lua.
-Mas, como podem as
crianças terem medo da noite? A noite se faz serena para as crianças dormirem
bastante, descansarem e acordarem pela manhã
cheias de energia e prontas para se divertirem comigo quando o sol abre
seu sorriso. As crianças não estão sendo justas com a noite. Temos que fazer
alguma coisa! Exclamou o dia demonstrando muita preocupação.
Antes
que pensasse numa solução para ajudar a amiga, a noite veio se aproximando
devagarinho, mais silenciosa ainda do que nas outras vezes, sem querer dar uma
só palavra, sem contar uma só história para o dia dormir. E, quando a noite não
conta histórias para o dia dormir, este não consegue ter um bom sono e bons
sonhos. É atormentado por pesadelos e acorda no outro dia estressado, sombrio e
cinza. Dia cinzento é dia cansado. É dia que dormiu sem ouvir as belas
histórias da noite.
E
assim, chegou mais uma noite. Noite tristonha, com poucas estrelas, muitas
delas se apagando com a tristeza que tomou conta dela. Até a lua não estava tão
luminosa. Tentava não minguar muito para doar um pouco de luz à amiga, pois com
o apagão de milhares de estrelas, a noite poderia ficar sombria demais.
Querendo melhorar o humor da amiga, a Lua
comentou:
-Você acha que as
crianças não te amam. Acha que todas as crianças temem você, mas isto não é
verdade. Olhe quantas crianças dormem tranquilas agora, graças à tranquilidade
que você oferece a elas. E nesta tranquilidade, sonham os sonhos mais lindos
para poder construir durante o dia um mundo melhor para todos nós. É em voce
que as crianças constroem os sonhos. E os sonhos atuam como um projeto da
realidade que o dia constrói. Se você deixar de existir para as crianças, os
sonhos não poderão acontecer e o dia vai ficar ocioso, sem trabalho e sem
possibilidade de construir uma realidade bem gostosa de ser vivida. Explicou a
lua.
A
tristeza deixa todo mundo pessimista. Pessimismo é um sentimento ruim que faz a
gente ter pensamento ruim, faz a gente lamentar e perder a capacidade de
encontrar soluções para os nossos problemas.
Contaminada com este pensamento pessimista a noite continuou lamentando:
-Mas, as crianças
podem dormir também durante o dia. Assim, não precisam de mim para construir
seus sonhos.
-Engano seu! Até para
dormir e sonhar durante o dia, a gente precisa criar você dentro da gente.
-Como assim? Perguntou
a noite confusa.
-É preciso fechar os
olhos. E, quando a gente fecha os olhos, a gente cria a noite dentro da gente.
Precisamos buscar voce mesmo quando você não está presente para que possamos
descansar , dormir e sonhar. Explicou a
lua cheia de encanto.
-De certa forma, você
tem razão... concordou a noite. Mas, quem tem medo não tem amor no coração.
Quem ama não precisa temer nada. Por isso, diante das crianças medrosas, sinto
que não sou amada.
-Mais uma vez, engano
seu! Quando o medo aparece, não é o amor que falta. Falta um outro sentimento
chamado coragem. E, a coragem só vem quando é chamada pelo medo. E, sem coragem
a gente não consegue viver o dia. Não sei se já conseguiu perceber, mas é em
você que a coragem nasce.
-Como assim? Perguntou
a noite. Não estou entendendo.
A
Lua continuou explicando cheia de entusiasmo. Sentiu que a noite estava ficando,
devagarinho, mais interessada. Isto já era um bom sinal para afastar a
tristeza.
-Veja bem! A gente só
tem medo daquilo que a gente não conhece. Daí, o nosso primeiro medo é do
escuro. E, só você pode oferecer o escuro para despertar o medo e à partir daí,
o medo despertar a coragem. Todo adulto corajoso foi um dia uma criança que em
algum momento teve medo. Só depois que a gente enfrenta o medo é que
conseguimos vence-lo e nos tornarmos pessoas corajosas.
-Isto quer dizer que
as crianças que estão com medo de mim, precisam justamente de mim para se
tornarem corajosas?
-Isto mesmo! Que bom
que você compreendeu!
-Mas, será que as
crianças vão compreender isto? É difícil entender a matemática destes
sentimentos. Medo + medo = coragem. Ou
seja, é preciso ter medo, para depois enfrenta-lo e só à partir daí vence-lo e
conquistar a coragem.
-Ou poderíamos dizer
que noite + medo = coragem. Ou seja, é preciso da noite para ter medo e à
partir deste medo conquistar a coragem, vencendo-o. Reiterou a Lua.
-Então, vamos contar
isto para todas as crianças que estão com medo. Sabendo disto, elas não terão
mais medo de mim e eu ficarei feliz novamente. As estrelas vão se iluminar
mais. Tudo vai ficar novamente mais bonito. Exclamou a noite agora com um
grande sorriso no rosto.
-De jeito nenhum!
Censurou a Lua. Voce não pode contar este segredo para ninguém. As crianças
precisam descobrir isto sozinhas. Enfrentando a noite, ou mais precisamente,
enfrentando você, elas vencerão o medo e conquistarão a coragem. Assim, teremos
muitas pessoas corajosas neste mundo. E precisamos de pessoas corajosas para
enfrentar todas as dificuldades que aparecerem na vida. Deixe que os pais das
criancinhas possam ajuda-las nesta descoberta.
Apontando
o dedo para uma casinha lá embaixo, bem em frente ao mar e ao lado de uma linda
floresta, a Lua indagou a noite:
- Querida amiga, consegue ver uma luz acesa naquela casinha lá
embaixo e logo nesta hora da madrugada?
-É claro! Vejo uma
criança acordada. Daqui consigo ouvir o choro dela. É isto que me deixa triste.
Tá vendo! Ela, como muitas outras, está chorando com medo de mim.
-Eu conheço bem este
menino. Ele se chama Luan. Os pais dele deram este nome a ele em minha
homenagem. Vamos ficar caladinhas para ouvir o que ele conversa com o pai?
A
Lua e a noite ficaram bem caladinhas tentando ouvir cada palavra que o menino
conversava com o pai. Agarrado ao mesmo ele gritava:
-Estou com medo! Estou
com medo!
-Querido, fique
tranquilo! Eu sei que ruim ter medo. Mas tem uma coisa muito boa nele.
Tranquilizou o pai de Luan.
-O que? Perguntou Luan
curioso.
-O medo chama a
coragem. De hoje em diante você terá a oportunidade de se tornar um garoto
muito corajoso. Mas, não basta só ter o medo. É preciso conquistar a coragem.
Voce quer ficar só com o medo ou quer a coragem para você. Perguntou o pai?
-É claro que eu quero
a coragem. Ter medo é muito ruim.
-E, por ser ruim, a
gente precisa acabar com ele. Existe o bem e o mal. O medo é o primeiro mal que
a gente precisa combater.
-Como assim, papai?
Perguntou Luan confuso.
-O medo é um
pensamento maldoso que fica rondando na cabeça da gente. E, se a gente não
acaba com este pensamento, ele vence a gente e a gente se transforma numa
pessoa medrosa. Mas...
-Se a gente acaba com
este pensamento ruim, a gente se transforma numa pessoa corajosa. É isto papai?
Perguntou Luan dando prosseguimento às explicações do pai.
-Muito bem, garoto!
Voce é muito inteligente e esperto. E, garoto inteligente e esperto consegue
montar várias armadilhas para vencer o medo e não cai nas armadilhas dele.
-E, quais são as
armadilhas do medo, papai? Perguntou Luan pronto para montar suas primeiras
estratégias contra o medo.
-Vamos começar pelos
pensamentos ruins que ele provocou em você. Por exemplo... Do que você estava
com medo? Perguntou o pai.
-Eu estava com medo do
barulho e do escuro da noite. Respondeu Luan.
-Vamos começar pelos
barulhos da noite que o medo quis que você escutasse e entendesse de forma
medonha. Para isto deveremos escuta-los de forma inteligente, procurando
identifica-los. Vamos ouvir todos os barulhos desta noite. Começando por este
aqui...
-Tic tac, tic, tac, tic, tac....
-Que barulho esquisito
é este, papai. Eu ouço e fico com medo dele...
-Este barulho acontece
não só de noite , mas de dia também. Só que a noite deixa tudo quietinho e você
consegue prestar mais atenção nele. E no dia há tanto barulho junto, que a
gente acaba não conseguindo percebe-lo e nem mesmo identificar nada. Mas,
amanhã você vai ouvi-lo de dia e perceber que ele não pode fazer nenhum mal a
você. Voce não consegue descobrir que barulho é este?
-Não, papai. Tô
achando difícil saber o que é isto.
-Então eu vou lhe ensinar
uma brincadeirinha legal. Quando eu era da sua idade, eu procurava dormir a
noite inteira, pois queria descansar para no outro dia levantar com toda
energia. Mas, às vezes, acontecia de eu acordar durante a madrugada e ficar
ouvindo estes barulhos esquisitos. Eu sabia que não precisava ter medo destes
barulhos, pois minha mãe me explicou tudo isto que eu estou te explicando
agora. Assim, quando eu acordava e o sono ia embora, eu ficava brincando de
identificar os barulhos, até que o sono voltava e antes que eu me desse conta,
já estava dormindo de novo. Eu descobri cada barulho mais engraçado... Tinha um
que era da geladeira velha da minha cada. Ela parecia um monstro derrubando
tudo dentro da minha casa.
-Voce acreditava em
monstro, papai?
-Haaa!!!! Pelo menos
nisto você já está mais esperto que o papai na sua idade. Papai acreditou até
meu pai me contar que eles não existiam. Meus colegas na escola inventavam
monstro de tudo que é jeito para fazer medo na gente. E tinha filme na TV que
inventava um monte de monstro também. Mas, depois que descobri que os monstros
só existiam nas fantasias que a gente cria na cabeça da gente, nunca mais tive
medo deles. Se você quiser eu crio um
monstro aqui agora para você.
-Como, papai?
Neste
momento, papai pegou o lençol da cama, jogou sobre a cabeça e fez um barulho
assim: UHHHHHHHHH!!!!!!! Luan morreu de rir
e brincou de lutar com o fantasma que o papai tinha criado. Depois da
brincadeira, Luan voltou a conversa onde papai tinha parado.
-E a geladeira
barulhenta da sua casa? O que você fez com ela?
-Eu não fiz nada.
Morria de rir do barulho dela. Transformei ela numa velha surda e ranzinza que
ficava reclamando da vida de noite pra não deixar ninguém dormir. Ficava até
com pena daquela velha chata que vivia reclamando. Acho que ela não estava mais
aguentando trabalhar tanto. Coitada! Trabalhava de dia e de noite sem descanso.
A gente, pelo menos, podia descansar de noite para trabalhar de dia. Assim, um
dia, a vovó e o vovô compraram uma geladeira nova pra deixar a velha aposentar
e descansar um pouco.
-A geladeira nova
fazia barulho também?
-Toda máquina faz
barulho. Mas o barulho dela era muito suave; não me incomodava. E se você
prestar bem atenção, tem máquina que trabalha o tempo todo e tem máquina que
trabalha só de dia.
-E tem bicho que
trabalha só de noite, papai ? Pois tem barulho que eu só ouço de noite e
você já me disse que é barulho de grilo
e de sapo.
-Tá ficando espertinho
né! Antes ficava com medo do canto do grilo.
-Mas agora não fico
mais, acho até bonito. Acho que vou transformar o canto deles numa música para
me ninar quando eu perder o sono.
-Isso que eu chamo de
garoto inteligente! Mas, mais inteligente ainda se for para cama agora e pegar
no sono para amanhã ter força para enfrentar o dia. Senão dormir, a preguiça
vai te dominar amanhã e você não vai conseguir fazer nada.
-Tudo bem, papai! Mas
fecha bem a janela porque tem um medo que eu ainda não dominei.
-Qual, meu filho!
Perguntou o pai surpreso com mais um medo de Luan.
-Tenho medo de algum
bicho entrar dentro do meu quarto pela janela. E não venha me dizer que não
existe bicho lá fora... Eu sei que não existe monstro e nenhum bicho papão, mas
sei que tem um monte de bicho de verdade lá fora que pode querer entrar dentro
do meu quarto.
-É aí que entra a
parte mais difícil do exercício da
coragem, meu filho!
-Exercício da coragem?
Que isto, papai? Perguntou Luan Surpreso. Luan estava acostumado a fazer os
exercícios que a professora na escola ensinava, mas nunca ouvira falar que a
coragem nos passava também alguns exercícios.
-Antes de nos
tornarmos uma pessoa corajosa, precisamos exercitar a confiança. Só aceitamos a
coragem se antes confiarmos que as coisas darão tudo certo. Sem confiança a
gente prefere o medo e o usa como uma precaução.
-Precaução... Que isto? Perguntou Luan surpreso diante
desta palavra nova nunca ouvida antes.
-Precaução é uma
espécie de cuidado que a gente tem diante do desconhecido. E, a gente só tem
medo daquilo que a gente desconhece. Quando a gente passa a conhecer, o medo
desaparece.
-Não estou entendendo,
papai.
O
pai de Luan pegou a máquina de fotografia e mostrou a última foto que havia
tirado do filho, perguntando:
-O que está
acontecendo nesta foto? Quem a tirou?
-Foi a mamãe que tirou
uma foto do meu primeiro pulo na piscina.
-Mas tem uma pessoa
com você nesta foto...
-É você, papai, me
incentivando pular. Eu estava com medo. Mas, com você dentro da piscina falando
que eu podia pular, pulei, e mamãe tirou a foto bem na hora que ... Luan deu
uma paradinha e ficou olhando para o pai como se tivesse descoberto algo muito
importante.
-Que o que , Luan?
Perguntou o pai.
-Que exercitei a minha
confiança em você para viver, finalmente, a coragem de pular. Completou Luan
cheio de alegria.
-Isto que é menino
inteligente! Entende tudo rapidinho. Além do papai, em quem mais você precisa
confiar para dormir com suas janelas abertas, não ter medo dos bichos que estão
lá fora, enfim , em quem você precisa confiar para poder viver. Pois todo ato
de vida é arriscado. Até andar é arriscado. Podemos cair. Mas nem por isso
paramos de andar. Confiamos que não vamos cair. Tudo que você aprendeu até
agora foi em algum momento arriscado. No início teve medo, depois confiou e
depois conquistou a coragem. Foi assim com seus primeiros passos sozinho, com a
bicicleta, com a piscina, com os patins, com a praia, com a escola, enfim, com
tudo. E vai ser assim também com a noite. Então, me diga. Em quem mais além do
papai e da mamãe você precisa confiar?
-Preciso confiar na
vovó, no vovô, nas minhas tias, na minha professora e... Luan deu uma outra
paradinha olhando com uma carinha de safado
para o pai.
-Voce se esqueceu do
mais importante. É ele quem sempre protegeu você e é ele quem sempre vai
protege-lo. Emendou o pai.
-Não esqueci não,
papai! Preciso confiar mais no meu anjo da guarda, pois ele sempre esteve do
meu lado e não vai deixar nenhum bicho entrar aqui. Pode deixar a janela aberta
papai! Vou começar a exercitar a minha confiança e com este exercício
conquistar a minha coragem. Exclamou Luan irradiando alegria.
Neste
momento, todas as estrelinhas que estavam apagadas no céu se ascenderam
novamente. Uma delas se ascendeu mais forte do que todas elas. Que estrela
maravilhosa! Ela era a luz do anjo da guarda de Luan. A luz desta estrela
refletia na janela como uma sentinela protegendo aquele quarto de toda e
qualquer coisa que pudesse perturbar a tranquilidade do garoto. A lua se irradiou de alegria também. Ficou
ainda mais cheia de luz. Olhou para os olhos da amiga noite e viu algumas
lágrimas escorrendo dos mesmos como se fosse um riacho de águas cristalinas.
Mas, agora a tristeza já não estava mais ali. A noite chorava de alegria. Quando
a emoção é muito grande, a gente chora de felicidade. E as lágrimas de
felicidade da noite caíram sobre todas as plantinhas regando-as com alegria. A
brisa da noite dava risadas tão altas formando um barulho engraçado de se
ouvir. Agora a noite tinha certeza que era também amada pelas crianças. Entendia
a importância do medo que ela causava para exercitar a coragem que todos nós
precisamos desenvolver. De posse desta certeza e de muita alegria, a noite foi
se transformando e o dia foi chegando devagarinho. Este alvorecer foi diferente
de todos. O dia despertou feliz, pois percebeu a felicidade nos olhos da noite.
E aquele dia foi muito especial. O sol brilhava mais forte, as lágrimas de
felicidade que a noite banhou sobre as folhinhas das plantas deu a elas um
brilho muito especial e as deixaram mais viçosas. Os passarinhos cantavam mais
alto. As crianças fizeram muita algazarra naquele dia e os adultos o
reservaram para passear. O dia acordou e
a noite foi dormir feliz. O tic tac do relógio anunciava a passagem do tempo
para que ao entardecer a noite pudesse acordar novamente e contar para o dia
esta linda história que você acabou de ouvir. Com uma história tão feliz, o dia
poderia dormir feliz e sonhar um sonho bem lindo para construir uma realidade
bem gostosa de ser vivida na sua próxima jornada de trabalho.
Noite
e dia; dia e noite – uma dupla inseparável que todos nós precisamos com
sabedoria saber viver. Luan aprendeu e ensinou isto para seus filhos, netos e
para todas as crianças que manifestavam em algum momento o medo da noite. Luan
se tornou um escritor. No final de sua história sobre a noite e sobre o dia ele
sempre dizia: Quem não supera o medo da noite, não vive sem medo de dia. E quem
com medo vive; espanta a alegria.
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