Dedico esta história a
todos aqueles que estão vivenciando a dolorosa estação do outono, ou seja, do
desapego e do desprendimento
Era
uma vez uma árvore que vivia todos os anos o mesmo medo. Sua ansiedade se
pronunciava já no final do verão. Começava a perceber que sua folhas iam
ficando menos viçosas e algo dentro de ti já avisava que, em breve, deveria perdê-las.
No início do outono, quando algumas folhas começavam a se desprender, a árvore
esquecidinha entrava em pânico procurando segurar suas folhas já secas e sem
viço em suas hastes.
-Voces não podem cair!
Ficarei desnuda e feia.
Dona
Borboleta Azul que já conhecia o problema da árvore esquecidinha procurava
acalma-la:
- Esquecidinha, voce
se esqueceu mais uma vez de uma regra básica da natureza. Há estações para
todos os seres. O outono chegou e não há como mudar isto. É a estação do
desapego e do desprendimento. Quem estiver passando por ela deverá se
desprender de alguma coisa muito importante para conquistar algo novo e melhor
à frente. Todos os anos voce passa por isso, no entanto, sempre se esquece.
-Verdade? Mas, eu não
consigo me lembrar de ter passado por isto antes. Eu devo ter um problema muito
sério de memória. Que tristeza! Lamentou Esquecidinha.
- Na verdade, não só
voce, mas a maioria dos seres. Quando chega o outono novamente, eles parecem se
esquecer que já viveram esta estação antes. Ao invés de aceitar, entram em
pânico ou tentam nega-la das formas mais ridículas e inapropriadas para a
energia do momento. Aceite o outono e grandes transformações acontecerão.
- Mas, eu não quero
perder minhas folhas; elas são muito importantes para mim.
- Ninguém quer perder
nada! No entanto, toda perda traz consigo uma grande conquista.
- Como é que vou
ficar! Careca e cinzenta... Vou me sentir solitária. Não terei sombra e nem
frutos para oferecer. Todos vão se afastar de mim. Estou com muito medo de
viver este tal outono que voce fala.
- Voce vive o outono
todos os anos, mas, infelizmente, se esquece. E, depois dele, voce se torna nova
e exuberante. É depois dele que vem a folhagem nova, viçosa, cheirosa, como
também, todos os deliciosos frutos que fartamente voce oferece ao mundo. Nada
melhor do que a renovação. Do jeito que voce está, o que poderá oferecer?
Carrega uma energia que precisa ser renovada. Neste momento, voce está se parecendo
mais uma velha enrugada, cansada, doente e sem viço.
- Que garantias voce
me dá de que viverei a renovação?
- Nenhuma, pois a
renovação só pode ser conquistada por quem se garante. Quem não se garante fica
velho e ultrapassado e acaba se afastando de tudo e de todos.
- Como assim, não
entendi. Voce está querendo me dizer que me transformarei num ser solitário se
eu não aceitar o outono? Perguntou, Esquecidinha, confusa.
- Isto mesmo! O mundo
gira e com eles todos os seres. Se permanecer no passado não terá como conviver
com quem está no presente. E sem o presente, não terá presença na vida. Ficará
agarrada a lembranças daquilo que não pode mais ser e se tornará uma árvore
deprimida.
- Voce pode me dizer o
que é uma árvore deprimida? Perguntou Esquecidinha.
- Mais do que isto! Posso
lhe mostrar.
A Borboleta
Azul apontou para uma árvore seca e sem vida logo adiante de esquecidinha.
Esquecidinha arregalou os olhos e pontuou assustada:
-A depressão tirou a
vida desta árvore?
- Não. A principal
responsável foi a sua resistência em se renovar. A depressão é só a
consequência de seu comportamento. Se prendeu tanto ao passado que passada
ficou.
- Eu não quero acabar
assim. Me fale o que devo fazer! Solicitou Esquecidinha apavorada.
- A primeira coisa
importante a fazer é não eternizar o lamento dentro de ti. Permita-se ficar
triste com sua perdas, mas, abra espaços para as novas conquistas. Deixe morrer
o que precisa morrer, mas deixe nascer o que precisa nascer. Os depressivos
abortam toda energia nova que quer nascer. Querem viver o passado e
reconstruí-lo ao invés de aprenderem com ele. Toda construção só pode ser
erguida no presente. Viva a energia do presente e erga com ela os pilares de
sua vida. Não importa se a energia do presente é alegria ou tristeza, certeza
ou dúvida, ignorância ou sabedoria. Viva cada energia, transmutando-as. Tudo é
uma coisa só.
Antes que a Borboleta
Azul pudesse continuar, Esquecidinha perguntou:
- Tudo é uma coisa só!
Como assim?
- Assim como o dia e
anoite. Para o dia nascer, a noite tem que morrer e vice versa.
- Já entendi! Não
precisa falar mais nada. Acho que preciso viver. Só isso, VIVER! E viver é
aceitar a estação do momento. Me esqueci de todas elas, por conta do meu esquecimento.
Mas, mais importante do que as lembranças que não tenho é a possibilidade de
viver e sentir cada momento como se fosse o único. Posso me esquecer de tudo,
mas daqui para frente vou fazer o possível para me lembrar do mais importante.
Esquecida
de seu medo, Esquecidinha viveu o outono. Deixou que todas as folhas se
desprendessem. Se recolheu ainda mais no inverno para se conhecer mais, se
fortalecer e se preparar para a grande transformação. Na primavera, lá estava
ela; exuberante, florida e acolhendo em seus galhos centenas de seres.
Esquecidinha continuou esquecida, mas a partir daquele outono, algo diferente
aconteceu. Quando indagada pelos outro seres acerca de sua impressionante
beleza, dizia;
- Viver é o mais
importante! E, viver é fluir por todas as experiências que a vida nos oferece.
Esquecidinha,
nunca mais temeu o outono. Conseguia, em meio a sua tristeza, fazer uma
piadinha que despertava o riso e o sorriso em muitos seres que compartilhavam
com ela aquele momento:
- Tô careca! Que tal meu
visual novo?
E,
assim todos riam e o riso trazia leveza e uma mensagem importante:
"Independente da estação, ele é sempre bem vindo”.
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